Dia 8 de junho de 2022 ocorreu o segundo encontro da quarta temporada do Circulação da Balbúrdia. Contamos com a presença da psicóloga, mestre em educação e membra da EFoP Vânia Bambirra, Ana Zandoná.
Ana apresentou a sua dissertação desenvolvida no Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGE/UFSC), intitulada “A conformação de uma nova sociabilidade: Competências Socioemocionais nas orientações do Banco Interamericano do Desenvolvimento”, orientada pela professora Dra. Eneida Oto Shiroma.
O trabalho discute como as competências socioemocionais têm ganhado espaço na educação básica brasileira, tanto na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) como no novo ensino médio. A inserção dessas políticas é defendida como se fosse uma preocupação com a infância, prevenção de bullying, melhor convivência na escola, entre outros assuntos. Porém, o que Ana desvela com a sua pesquisa é que o objetivo é o de conformar a classe trabalhadora a uma posição de resignação e docilidade mais adequada ao mercado de trabalho.
Ana apresenta a hipótese de que as competências socioemocionais (CSE) compõem um projeto de formação do capital para a sociabilidade da juventude da classe trabalhadora. Esse projeto se desenvolve nos países do centro do imperialismo, principalmente nos Estados Unidos, e se estende para os contextos do capitalismo dependente, principalmente na última década.
Foram examinados os argumentos desenvolvidos nas pesquisas nas áreas de psicologia, educação e trabalho a respeito das competências sociomocionais e também foram analisadas as propostas do Banco Interamericano do Desenvolvimento (BID) para inserção das CSE na educação de jovens na América Latina.
Na área de psicologia, as CSE são apresentadas no sentido de busca por um comportamento voltado para a adaptação, colaboração, relações harmoniosas e para produção do autodisciplinamento. O papel do professor é colocado com sendo de monitoramento e de ser um modelo emocional para os estudantes. A psicologia desenvolve muitas avaliações sobre as CSE. Os argumentos elaborados na área da psicologia que vendem maior subordinação como se fosse autonomia são reproduzidos na literatura ligada ao trabalho.
A pesquisadora percebeu que nos últimos anos se ampliaram os estudos sobre CSE na educação. Esses estudos abordam o aprofundamento do individualismo, uma formação acrítica e instrumental, voltada a comportamentos flexibilizados.
Os documentos do BID tecem argumentos no sentido de tentar nos convencer de que os interesses dos capitalistas coincidem com os interesses da classe trabalhadora, com o encobrimento das relações de classe. O objetivo é unicamente preparar o estudante para o mercado de trabalho, sendo uma educação muito rebaixada, na qual os conteúdos formativos não são o essencial, mas sim a capacidade de autoregulação do estudante e futuro trabalhador.
De acordo com a pesquisadora, o objetivo é a formação proposta pelo BID é de um trabalhador que interiorize melhor a subordinação, com o intuito de docilizar e conter a classe trabalhadora durante crises, para cooperar com a manutenção da sociedade capitalista.
Após a apresentação foram feitas perguntas e o tema foi debatido entre os participantes da atividade.A gravação do encontro está disponível na íntegra no canal da Efop no Youtube. A dissertação da Ana está disponível para leitura na Biblioteca da EFoP. Acompanhe nossas redes para ficar sabendo das próximas atividades.
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