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Guia de leitura #12: Desventuras dos professores na formação para o capital

Edição de Julho de 2022


Sobre os autores:


Olinda Evangelista: Professora aposentada e voluntária no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Pesquisadora do Grupo de Investigação sobre Política Educacional (GIPE-Marx/UFSC).


Allan Kenji: Doutor em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Pesquisador do Grupo de Investigação em Política Educacional (GIPE-Marx) e do Grupo de Estudos e Pesquisas em Política Educacional (GREPPE). É professor na Escola de Formação Política da Classe Trabalhadora - Vânia Bambirra.


Artur Gomes de Souza: Mestre em educação pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), doutorando em educação na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), membro do Coletivo de Estudos Marxismo e Educação (COLEMARX) e do grupo de pesquisa Estado, Políticas e Espaço Público/FIOCRUZ.


Mauro Titton: Professor do Departamento de Metodologia de Ensino do Centro de Ciências da Educação da Universidade Federal de Santa Catarina e Coordenador do PRONERA/CED/UFSC. É membro pesquisador do Grupo de Investigação sobre Políticas Educacionais (GIPE-Marx - UFSC).


Astrid Baecker Avila: Professora no curso de Pedagogia da UFSC. Desenvolve investigação e ação nos seguintes temas: Política educacional, Ontologia e Realismo Crítico, Produção do conhecimento em Educação Física, Política de pós-graduação, Formação docente. É membra pesquisadora do Grupo de Investigação sobre Políticas Educacionais (GIPE-Marx - UFSC).


Sobre e obra:


O livro integra o último título do eixo “Imperialismo e a relação centro-periferia” escolhido pela curadoria do clube. A obra está organizada com cinco capítulos que sintetizam as pesquisas realizadas pelos autores no campo da educação, sobretudo, os avanços do capital na carreira docente.

No primeiro capítulo, “Desterro docente e formação humana nos governos petistas”, Baecker, Titton e Evangelista destacam a continuidade na política de formação docente desde o governo de Itamar Franco (1992), Fernando Henrique Cardoso (1995-2003) e Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2011).

Em linhas gerais, o que esteve em jogo foi a mudança do papel dos professores, que tiveram suas funções intelectuais transformadas em assuntos “gerenciais”, empresariais. Além disso, houve a inserção de demandas específicas em políticas públicas como forma de cooptar importantes intelectuais.

O projeto de transformação do papel docente perpassou pela inserção de tecnologias para a incorporação do Ensino a Distância e transformação do caráter da formação, que acabou sendo submetida a uma lógica de serviços. Foi durante os governos petistas que houve expansão da separação entre as formações universitárias e não universitárias.

O segundo capítulo, intitulado “O crescimento perverso nas licenciaturas privadas”, escrito por Seki, Souza e Evangelista demonstra que esse projeto educacional de transformação do papel docente esteve envolvido com a ofensiva do capital no campo das licenciaturas. Segundo os autores, pode-se destacar duas tendências: o abandono na modalidade presencial para a formação de professores e a expansão das matrículas nas instituições privadas neste ramo. Um destaque importante da pesquisa - que cabe ressalvar, foi realizada no período anterior à pandemia e à generalização do Ensino Remoto nas instituições públicas - é que a modalidade EaD não traria maior democratização de acesso, pois as matrículas estão concentradas principalmente nos grandes centros urbanos.

O capítulo seguinte, "72 horas em 16 minutos: qual escola para o professor brasileiro?”, por Seki, Souza e Evangelista, destaca-se o caráter aligeirado e superficial em curso para formação docente. A concentração e monopolização de capitais no âmbito do ensino superior está atrelada a uma capacidade muito grande destes determinarem a formação, o que dá a eles o poder de submeter o espaço formativo à forma social do capital. Até mesmo o financiamento à pesquisa é reconvertido em espaço de valorização do capital, por meio de isenções tributárias ou emissão de títulos da dívida pública, no Programa Universidade para Todos (Prouni) e Fundo de Financiamento Estudantil (FIES), respectivamente.

O quarto capítulo é bastante pertinente para a conjuntura das universidades no pós-pandemia. “Vitória da EaD ou do Capital?”, escrito pelos mesmo autores do anterior, eles destacam como o projeto do EaD tem como objetivo submeter os professores às determinações educacionais da classe dominante.

Havia uma intencionalidade em curso na década de 1990, sobretudo no governo FHC, de aligeirar a formação de professores em uma modalidade que permitiria a eles não se afastarem do trabalho, como o EaD.

No ensino superior, essa modalidade se expandiu sob a disseminação ideológica de que permitiria uma maior democratização do ensino, com a inclusão dos jovens “pobres”. Esse projeto de ensino, segundo os autores, só foi possível pela constante captura do fundo público para financiar sua expansão.

Por fim, no último capítulo, “O labirinto dos dados”, traz algumas discussões sobre as dificuldades em recolher os dados relativos às políticas educacionais no Brasil, objeto de estudo dos pesquisadores do livro. Essa é uma política direcionada, seja pela falta de recursos para a realização de estudos nesse sentido, seja pela articulação dos interesses do capital na produção de dados oficiais.

Esse é um livro que reflete uma pesquisa bastante robusta em uma universidade pública brasileira. O trabalho de levantamento dos dados e tratamento crítico da informação resultaram em uma produção extremamente relevante para pensar o projeto educacional em curso no Brasil. Não à toa, projetos como o Reuni Digital têm aparecido com força nessas instituições, como forma de quebrar a capacidade crítica de seus alunos e professores.

A precarização do ensino reforça a posição do Brasil enquanto um país de capitalismo dependente na ordem mundial, com pouco investimento em ciências de “base” e muita reprodução do conhecimento produzido no exterior em nome da "inovação'', e, ainda somado com a perda da capacidade de crítica em relação à sua própria realidade social.


Textos relacionados:

Reuni Digital: página infeliz da nossa história, por Olinda Evangelista e Priscila Monteiro Chaves


Obra recomendada:

EVANGELISTA, Olinda; KENJI, Allan (org.). Formação de professores no Brasil: leituras a contrapelo. Araraquara: Junqueira e Martin Editores, 2017.


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