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Guia de Leitura #14: Sobre o suicídio, de Karl Marx

Atualizado: 12 de out. de 2022


Edição de Setembro


Sobre a obra:

Publicado em 1846, este texto foi escrito durante o exílio de Marx em Bruxelas. A obra é um debate com trechos do livro Memórias, de Jacques Peuchet, um ex-arquivista policial. Sua experiência no departamento de administração e de Polícia o fez ter contato com diversas documentações de casos de suicídio, registrados neste livro. Peuchet tece algumas críticas aos comportamentos da sociedade da época.

Marx retoma esses escritos que já possuíam seu caráter crítico e soma a este o olhar radical da crítica da economia política. O livro é composto de trechos do livro de Peuchet com breves comentários do filósofo alemão.

Michael Lowy ressalta no prefácio que há um elemento bastante radical neste texto, que é a constatação de que mesmo aquilo que é privado, é político. A principal questão para Marx, neste livro, ressalta Lowy, é a crítica à sociedade burguesa, uma sociedade doente na qual se vive “uma solidão em massa” p. 16

O número de suicídios é considerado por Marx um “sintoma da organização deficiente de nossa sociedade” (p. 24) e que nada tem de “antinatural”, pois é algo que está na natureza da nossa sociedade.

O livro está repleto de passagens poéticas, que evidenciam a sensibilidade de Marx para as questões que afligem a classe trabalhadora:

“Que tipo de sociedade é esta, em que se encontra a mais profunda solidão no seio de tantos milhões; em que se pode ser tomado por um desejo implacável de matar a si mesmo, sem que ninguém possa prevê-lo? Tal sociedade não é uma sociedade; ela é, como diz Rousseau, uma selva, habitada por feras selvagens” p. 28

Por que a obra continua atual?

Apesar do debate sobre os problemas que aflige psiquicamente os seres humanos terem avançado muito desde a escrita deste artigo por Marx, a radicalidade que ele expressa ainda nos demanda muitos esforços de elaboração.

A psicologia, a psicanálise e a sociologia são campos, por exemplo, que discutem a experiência do suicídio. Contudo, vemos esvaziar-se cada vez mais o debate sobre as raízes deste problema social. Em uma sociedade em que cada um luta pela própria sobrevivência diante da ferocidade do capital, cabe nos fazermos a pergunta reversa: quais mecanismos a classe dominante lança mão para tornar a existência suportável diante de tanta miséria, exploração e pobreza - em seu sentido material e do próprio espírito criativo?

Esta obra continua extremamente atual para que estas áreas do conhecimento - cada vez mais tomadas pela consciência burguesa de produção de saber - possam retomar o que está realmente na raiz dos dilemas sociais e na produção de sofrimento.

Além disso, este texto nos lembra que não há solução individual para dilemas que são fundamentalmente coletivos. Esses problemas que aparecem como tendo origem no que há de mais íntimo de cada ser, não passam de uma expressão das contradições sociais dessa sociedade absolutamente desigual.

Convidamos vocês a se debruçarem sobre esta obra!


Obra complementar

BARTHES, Roland. Diário de luto. Lisboa: Edições 70, LDA, 2009.


Textos de apoio


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