O Pensamento de Lênin,
de Henri Lefebvre
A escolha do sexto livro do Clube do Livro a Esquerda buscou dar continuidade aos debates realizados a partir da obra de Milton Santos. O livro "O Pensamento de Lênin" foi publicado originalmente na França, em 1957, como parte de uma coleção sobre grandes pensadores. Henri Lefebvre foi convidado a escrever sobre Marx e Lênin, devido aos seus amplos e densos estudos sobre Marx e a continuidade do seu pensamento.
Henri Lefebvre é mais conhecido por seu conceito de Direito à Cidade, que dá nome a um de seus livros. Estudioso profundo da produção do espaço urbano, influenciou diversos autores contemporâneos do Urbanismo e da Geografia, como David Harvey e Milton Santos. Lefebvre foi um grande proponente de um resgate da dialética como método para estudar a realidade e, se contrapondo às leituras mecanicistas da história, recuperou em sua teoria o papel do sujeito na revolução social e urbana.
O livro “O Pensamento de Lênin” contém as reflexões de Henri Lefebvre sobre o gênio político e filosófico do revolucionário bolchevique. Lênin, líder da Revolução de Outubro na Rússia, também foi um teórico de grande estatura, colocando na ordem do dia o debate sobre o imperialismo, fundamental para traçar um projeto revolucionário nas circunstâncias específicas dos países subdesenvolvidos.
A obra pode ser dividida em quatro partes. A primeira inclui o prefácio, um capítulo sobre as condições históricas do leninismo e um capítulo sobre a vida de Lênin. As seguintes abordam com mais profundidade o pensamento filosófico de Lênin, o pensamento econômico de Lênin e o pensamento político de Lênin. Lefebvre alerta que esta não é uma biografia de Lênin. Segundo o autor, o livro se propõe a resumir o leninismo, sendo pensado tanto para quem já tem conhecimento sobre a obra do revolucionário russo, como para quem não o conhece ou nem mesmo se informou sobre Marx e o marxismo.
Antonio Carlos Mazzeo escreveu a orelha do livro e destacou que apesar de Lênin ser lido por muitos como um militante prático da revolução, sua volumosa obra mostra a densidade de um dirigente que nunca foi um revolucionário rotineiro. Ao contrário: integrou o seleto grupo de intelectuais de práxis do movimento revolucionário, empenhados em dar “respostas concretas para situações concretas” em seu tempo.
Henri Lefebvre não somente acentuou esse elemento fundamental do pensamento lenineano como organizou este livro fundamental, com o objetivo de divulgar com qualidade e, ao mesmo tempo, situar histórica e politicamente o papel do maior revolucionário do século XX. Lefebvre sistematiza com clareza os fundamentos do pensamento de práxis de Lênin. Didaticamente, Lefebvre discorre sobre os principais aspectos e elementos centrais componentes do pensamento de Lênin.
Sobre o autor Henri Lefebvre (1901-1991) foi um filósofo marxista e sociólogo francês. Estudou filosofia na Universidade de Paris, onde se graduou em 1920. Aderiu ao partido comunista francês em 1928 e participou da resistência francesa ao nazismo. Foi responsável por cunhar o termo “direito à cidade”, com o qual defendia que a classe trabalhadora deveria ter acesso à vida urbana, conceito este desenvolvido em livro homônimo. A obra de Henri Lefebvre é bastante extensa (escreveu mais de 70 livros), abrangendo análises do marxismo no século XX à luz dos textos do próprio Marx, e mantendo intenso debate com grandes filósofos da época. Segundo José Paulo Netto, para o Blog da Boitempo:
“A imensa bibliografia de Lefebvre (quero crer que ele está entre os autores marxistas que mais escreveram e publicaram) não registra somente títulos de indiscutível relevância, como aqueles referidos à crítica da vida cotidiana, à pesquisa sociológica no meio rural, ao fenômeno urbano, à exegese filosófica, à polêmica com diversas correntes teóricas (como o estruturalismo dos anos 1960) e à análise de conjunturas histórico-políticas determinadas (a Comuna de Paris, a irrupção de maio de 1968). Registra também intervenções de pouco fôlego (como a sua crítica ao existencialismo, de 1946, o seu livrinho sobre estética, de 1953, ou as suas reflexões sobre a “psicologia das classes sociais”, apresentadas no conhecido Traité de sociologie dirigido por G. Gurvitch, de 1960), superficiais (como a sua apreciação dos “problemas atuais do marxismo”, de 1958, a sua visão da “sociologia” de Marx, de 1965, ou o seu “manifesto diferencialista”, de 1970) e mesmo tão pretensiosas quanto mais esboçadas que elaboradas (como o seu tratado sobre o Estado, de 1976). Para ser curto e grosso: a obra de Lefebvre, como a da maioria dos polígrafos, é muito desigual, incluindo segmentos brilhantes e páginas anódinas – no entanto, os primeiros ultrapassam largamente as últimas. Por isto, não é possível pensar o marxismo do século XX sem considerar a contribuição ímpar da sua inteligência e do seu talento."
Apesar da vasta obra, no Brasil são raras as publicações do filósofo. Em língua portuguesa há em torno de um terço de suas obras - em grande parte anteriores à década de 1970. A última tradução foi feita pela Lavrapalavra Editorial e trata-se justamente da obra O pensamento de Lênin, que foi publicada em 2020.
Texto relacionado
Como complemento à leitura deste mês, compartilhamos um texto em homenagem a 151 de Lênin, publicado no Jornal Universidade à Esquerda, por José Braga.
Lenin, 151 anos, de José Braga.
Obras sugeridas
Como sugestão de continuidade do estudo, selecionamos os seguintes materiais:
Henri Lefebvre. O Direito à Cidade.
Para um estudo mais abrangente da obra de Henri Lefebvre, recomendamos a leitura de seu livro mais famoso, no qual articula o conceito de Direito à Cidade, bastante utilizado por pesquisadores e movimentos sociais no Brasil e no mundo. O livro foi publicado por diferentes editoras, como Centauro e Nebli.
Vladimir Lênin, O que fazer? Questões candentes de nosso movimento.
Também recomendamos um estudo mais aprofundado da obra de Lênin, através da leitura dos livros escritos pelo revolucionário. “O que fazer” é um esforço prático de resposta aos principais problemas da social-democracia da época, sobretudo a relação entre a espontaneidade das massas e a vanguarda do partido, além da importância da teoria política para o movimento revolucionário, sintetizada em sua célebre frase: “Sem teoria revolucionária, não pode haver movimento revolucionário”.
Patrimônio público, urbanismo e sanha capitalista. Debate com Cláudio Ribeiro e Sara Granemann organizado pela EFoP Vânia Bambirra.
O debate sobre conflitos urbanos organizado pela EFoP dialoga com a obra desse mês à medida que articula as críticas e enfrentamento ao sistema capitalista com o debate sobre os conflitos urbanos e a cidade. Cláudio Rezende Ribeiro é professor da FAU-UFRJ (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) onde atua com ensino de urbanismo, meio ambiente e história da cidade na graduação e no Programa de Pós-graduação em Urbanismo – PROURB/FAU/UFRJ. Foi presidente de seção sindical do Andes-SN na UFRJ, a Adufrj-ssind de 2013 a 2015, e integrou a a diretoria nacional deste sindicato de 2016 a 2018. Acredita que a cidade só se realiza no conflito. Sara Granemann é professora de Economia Política na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Autora de rigorosa crítica e inovadora tese sobre a segurança social e os fundos de pensões. Docente na Faculdade de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense de 1991/1994. Docente na Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro desde 1994. De tradição marxista, estuda Estado e políticas sociais; Previdência pública e privada; e Serviço Social.
Você pode acessar o debate clicando aqui.
Commentaires